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A mulher de branco

Foto do escritor: Odilon JúniorOdilon Júnior
A mulher de branco - Pequenos contos Medonhos - Odilonpjr

Eu morava em Tupaciguara, no interior de Minas Gerais, e fiz o meu curso universitário em Itumbiara, cidade em Goiás, a poucos quilômetros de distância. Todos os dias íamos, pegávamos o ônibus na hora certa e seguíamos pela rodovia, parando ali perto da Barraca da Farinha, para que outros estudantes, que moravam nas redondezas, pudessem embarcar.

Naquele local, exatamente ali, eu percebia sempre, do outro lado da rodovia, uma mulher que usava um vestido branco e uma criança de aspecto comum, humanos, por assim dizer. Eu apenas via, não interagia, não sentia nada de estranho, não via nada além disso de incomum. Tanto na ida, fim da tarde, quanto na volta, já bem escuro, chovendo ou não, essa mulher estava lá, parada, olhando para o ônibus, e a criança segurando uma das suas mãos.

Com o tempo, eu nem ligava mais; passava, olhava e continuava as conversas ou o que eu estava fazendo durante o percurso. Mas em certo dia, e como de costume para mim, terminei a prova mais cedo e fui para o ônibus. Sempre, em dias de prova, nós nos reuníamos no fundão do ônibus e fazíamos farra na hora de ir embora; bebíamos, ríamos, contávamos piadas, essas coisas.

Neste dia em questão, voltamos um pouco mais cedo e mesmo assim já estava escuro, muito escuro. Aquela escuridão na estrada que impede que se veja nada além do que a luz do farol ilumina.

Novamente, eu percebi aquela mulher ali, e, por incrível que pareça, eu conseguia enxergá-la mesmo em meio à escuridão da noite: seu vestido branco e a criança segurando sua mão na mesma posição de sempre. O ônibus parou para que as pessoas pudessem descer. E eu, bêbado do jeito que estava, resolvi falar sobre isso.

- Michele. – chamei minha amiga. – Aquela mulher é louca de ficar ali na rodovia a noite inteira com aquela criança, todo santo dia.

- Que mulher? – Michele olhou e sua expressão demonstrava que não havia ninguém ali fora. Se a mulher estava nítida para mim, com certeza ela teria visto.

- Aquela ali fora, de vestido branco, do outro lado da rodovia, com uma criança segurando sua mão...

- Não tem ninguém ali, Adriano! – afirmou ela voltando para o banco onde estava sentada.

Desde então, toda vez que passávamos por lá, eu me deitava no banco do ônibus e fingia estar dormindo até passarmos pelo local. E isso durou por mais alguns anos. Nunca mais olhei pela janela do ônibus ou do carro quando passo por ali.

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Este conto foi enviado por Adriano dos Santos, um amigo meu, que quis compartilhar essa história conosco. Se você também tem histórias para contar e quer compartilhá-las, deixe aqui nos comentários para que eu possa adaptá-las.

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